Energia nuclear no Brasil
É uma fonte energética pouco
expressiva no país, tendo em vista que o potencial hidrelétrico brasileiro ainda
não foi totalmente aproveitado. O Brasil busca, porém, dominar a tecnologia da
geração de energia nuclear, considerando a sua importância para a segurança
nacional e para o futuro do país, como fonte útil para o meio de transporte no
espaço e nos mares, como é o caso do submarino nuclear em construção pela
Marinha brasileira. Apesar de o desenvolvimento da física nuclear no Brasil ter
começado em 1938, no Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras da Universidade de São Paulo (o departamento iniciou seus estudos sobre
fissão nuclear quase na mesma época em que pesquisas semelhantes ocorriam no
exterior), o interesse pelas aplicações desse tipo de energia só surgiu depois
do fim da II Guerra Mundial. Materializou-se a partir dos anos 50, quando o
almirante Álvaro Alberto, envolvendo a comunidade científica, alertou o governo
da sua importância para a segurança do país.
Dois foram os principais debates que
surgiram na ocasião em relação à energia nuclear. Em primeiro lugar, discutiu-se
a exportação indiscriminada, pelo Brasil, de suas reservas de minérios de
importância nuclear, como o urânio e tório. A segunda questão polêmica foi a
fracassada tentativa de compra, pelo Brasil, de ultracentrífugas de origem
alemã, equipamentos destinados ao enriquecimento de urânio. Impedido de
adquiri-las, porque às nações detentoras da tecnologia de produção do urânio
enriquecido não interessava repassá-la a países em vias de desenvolvimento, o
Brasil, país rico em minérios atômicos, decidiu lançar-se numa linha autônoma de
pesquisas, que permitisse o uso do urânio natural. Para isso foi criado em 1951
o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), atualmente rebatizado de Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e, em 1956, a
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Enquanto ao CNPq caberia financiar
pesquisas e a formação de pesquisadores, à CNEN foi dada a tarefa de desenvolver
a utilização da energia nuclear em todas as formas de aplicação pacífica, com
crescente autonomia tecnológica; garantir a segurança das usinas nucleares, das
instalações do ciclo de combustível e das demais instalações nucleares e
radioativas. Foram vinculados à CNEN os seguintes institutos de pesquisa e
desenvolvimento nuclear: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN),
em São Paulo; o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), em Belo
Horizonte; o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) e o Instituto de
Energia Nuclear (IEN), os dois últimos no Rio de Janeiro.
No final dos anos 60, a situação
brasileira em relação à tecnologia nuclear continuava, contudo, a ser de
dependência em relação ao exterior. A linha de pesquisas de aproveitamento do
urânio natural pouco havia avançado. Em 1969, o governo brasileiro decidiu
construir uma usina nuclear na praia de Itaorna, no município fluminense de
Angra dos Reis. Adquiriu um reator de urânio enriquecido nos Estados Unidos.
Esta decisão foi muito criticada pelos físicos brasileiros, principalmente
porque a compra se deu em regime de turn-key, o que significava um pacote
fechado de equipamentos, que não permitia o acesso à tecnologia. A construção da
usina, mais tarde batizada de Angra I, começou em outubro de 1972. Prevista para
entrar em operação comercial em 1979, sofreu grande atraso, só sendo inaugurada
em 1983.
Ainda na década de 70, o governo do
presidente Ernesto Geisel assinou um amplo acordo de transferência de tecnologia
nuclear com a então República Federal da Alemanha. Assinado em 1974, incluía,
além da aquisição de usinas nucleares, a possibilidade de transferência das
diversas tecnologias do ciclo do combustível nuclear, tais como o enriquecimento
e o reprocessamento de urânio. Na realidade, o processo de enriquecimento a ser
transferido, batizado de jato centrífugo, encontrava-se ainda em estudos nos
laboratórios alemães, portanto sua aplicação era muito duvidosa.
Com o acordo com a Alemanha, o
governo federal decidiu erguer mais duas usinas em Angra dos Reis. Batizou o
complexo de Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto. O reator de Angra I (com
620 MW de potência) é do tipo PWR (reator de água leve pressurizada). As duas
outras unidades — Angra II e Angra III — previstas no projeto inicial somam uma
capacidade total de 2.600 MW. Com reatores também de água leve pressurizada,
foram adquiridas em indústrias alemãs. Angra I é a única em funcionamento até os
dias de hoje. Para 1999 prevê-se a entrada em operação de Angra
II.
Ao longo dos anos 80, o ambicioso
programa de cooperação nuclear com a Alemanha desenhado na década anterior foi
sendo gradativamente reduzido. Nesse período, o Brasil conseguiu dominar a
tecnologia de algumas etapas da fabricação do combustível nuclear que
periodicamente abastece a usina de Angra I.
Em setembro de 1987, porém, o
governo do presidente José Sarney anunciou o domínio da tecnologia de
enriquecimento de urânio por ultracentrifugação, admitindo que pesquisas
alternativas e autônomas vinham ocorrendo em segredo, no IPEN, em São Paulo. De
fato, um dos mais avançados resultados no campo da energia nuclear vem sendo
obtido pela Marinha, que objetiva a construção de um submarino de propulsão
nuclear, assim como uma tecnologia brasileira de construção de reatores
nucleares.
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